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Reseña

ClioESE: mais do que um site, uma plataforma colaborativa

Realizada por:
Ana Moreira. Universidade de Santiago de Compostela. (ana_m0reira@hotmail.com).
Cristina Maia. Escola Superior de Educação do Porto. (cristinamaia@ese.ipp.pt)

 

http://www.clio.ese.ipp.pt

A comunidade virtual ClioESE (http://www.clio.ese.ipp.pt/), integrada no projeto português Oficina Didática de Ciências Humanas do Centro de Investigação e Inovação em Educação (InEd - IPP) do Politécnico do Porto, alia as dimensões histórica, geográfica, antropológica e etnográfica no âmbito da educação para as Ciências Humanas. Um site ou uma plataforma colaborativa, interativa, que visa a otimização e a melhoria das práticas pedagógicas em contexto de sala de aula, privilegiando uma associação entre a transmissão de conhecimentos (saber) e o desenvolvimento de capacidades, procedimentos (saber fazer), atitudes e valores (saber ser). Um instrumento ativo ao serviço dos profissionais da Educação Básica, como centro divulgador de experiências de aprendizagem. Um interface que, fazendo usufruto da forte presença da tecnologia de informação no quotidiano atual, poderá promover a comunicação entre pessoas e instituições e, no seio do contexto educativo, contribuir para o sucesso de inovações educacionais. Porque esta bi-direcionalidade comunicativa, capaz de eliminar até barreiras geográficas existentes, transforma uma comunidade de prática num ambiente de reflexão sobre conteúdos específicos, ações didáticas, necessidades de formação e, ainda, num espaço de debate, problematização e cooperação, para uma reinvenção coletiva da prática pedagógica. Uma plataforma colaborativa porque se apropria, gere e compartilha um conjunto de ideias, objetivos e memórias e, mais ainda, “desenvolve recursos, como ferramentas, documentos, rotinas, vocabulários e símbolos, que, em certa medida, carregam consigo o conhecimento acumulado pela comunidade” (El-Hani e Greca, 2011:582).    
Nos dias de hoje, os profissionais da educação reconhecem que é conferido especial destaque aos modelos de atuação profissional (socio)construtivistas. Por outras palavras, em contexto de sala de aula deverão privilegiar-se metodologias de trabalho centradas na aprendizagem do aluno, tendo este um papel ativo na construção do saber, na aquisição progressiva da sua autonomia e no desenvolvimento do espírito crítico e de atitudes de cidadão responsável, democrático e atento ao património cultural (Ministério da Educação, 1991). O ensino da Ciências Humanas (como a História) precisa, inevitavelmente, de se adaptar às novas necessidades educativas, assim como à diversidade de contextos socioeconómicos e culturais.
O portal colaborativo ClioESE disponibiliza, neste momento, cerca de uma centena de recursos pedagógico-didáticos e o exemplo de um projeto de escola (passível de aplicação num qualquer contexto). Estes recursos adequados a alunos de diferentes faixas etárias, desde os 5 aos 15 anos de idade, evidenciam uma forte aposta pedagógica na interdisciplinaridade (colaboração entre a História e a Língua, Literatura, Artes Plásticas, Geografia, entre outras) e assumem formatos muito distintos: guiões de visita de estudo, guiões para exploração de filmes históricos ou obras literárias, jogos didáticos, powerpoints didáticos, fichas de trabalho, planos de aula com sugestões de atividades, propostas de exploração de mapas alusivos a acontecimentos históricos, webquests, diaporamas. Além disso, permitem a abordagem de temas ligados às Ciências Humanas, que vão desde a Etnografia até à Geografia, Antropologia ou à História de Portugal e História Europeia e Mundial.
Trata-se de um volume de recursos em permanente crescimento, porque a plataforma é dinâmica e pode expandir-se com a junção de novos materiais didáticos que se apresentem como criações inéditas para utilização na sala de aula. Propostas daqueles que querem colaborar e potenciar o desenvolvimento deste projeto, investindo, acima de tudo, no desenvolvimento de boas práticas pedagógicas com o auxílio de materiais concebidos para uma participação ativa dos alunos e, consequentemente, no enriquecimento do percurso académico dos jovens estudantes de hoje. Opções que podem propiciar o desenrolar de aulas interativas e capazes de estimular de forma mais significativa o intelecto, permitindo ao aprendente uma real oportunidade de construir os seus conhecimentos sobre este ou aquele assunto e de ampliar as suas competências comunicativas e pensantes (Arends, 2008). Oportunidades para desafiar o raciocínio e a criatividade, para promover a apreensão da realidade na sua diversidade, complexidade e múltiplas dimensões temporais, assim como as atitudes dos indivíduos, grupos e povos na construção, reconstrução e reinvenção das sociedades. Numa educação histórica que não tem de ser monótona ou aborrecida, mas que pode explicar os «comos», os «porquês», os «depois» com significado e dinamismo (Roldão, 1991). Porque aprender Ciências Humanas não é “uma mera memorização de factos, nem mesmo a simples capacidade de explicação técnica dos fenómenos e acontecimentos” (Mattoso, 2006:18), antes “..es también comprender los procedimientos que se requieren para estabelecer esos hechos, interpretarlos en el contexto de su época y lugar, y entender los rasgos y limites de la explicación y de la narrativa histórica en que esos hechos se articulan” (Castillo, 2015:45).
Também através dos cinco artigos de opinião e/ou trabalhos de investigação (sobre temáticas como a dimensão espacial e a utilização de obras literárias no ensino da História e da Geografia, a escola pública e as suas particularidades ou as potencialidades de uma pedagogia diferenciada para o sucesso) disponibilizados no ClioESE, os docentes, especialistas da área ou apenas curiosos poderão pensar sobre diferentes materiais e estratégias de ensino, ler e interpretar informação diversa sobre a escola, o ensino, a educação em geral, investindo numa indígena capacidade de análise e de transformação ou, talvez, num saber problematizar sempre interessado (Hall, 1981).
Já o Fórum permite aos visitantes do ClioESE partilhar dúvidas, debater opiniões, questionar a realidade a partir dos temas propostos. Os professores, em particular, podem revisitar as suas práticas quotidianas e refletir sobre o papel dos estudantes na ação didática, onde envolvidos numa atuação prática, capaz de suscitar a sua empatia natural e bem distante da passividade exigida pelas “informaciones oferecidas por el profesorado” (Trepat, 1995:139), vivenciam a oportunidade de pensar e de construir o seu próprio saber. Mais uma vez, dialogando com os pares, com estudiosos do tema ou com meros internautas curiosos, poderão consolidar aquela tão construtivista perspetiva da aprendizagem como «atividade cultural e social», do conhecimento como «algo pessoal» e da construção de significados pelos alunos como resultado «da interação com os outros» (Arends, 2008).
As notícias atualizadas sobre congressos nacionais e internacionais, publicações e exposições, seminários e jornadas no âmbito da educação para as Ciências Humanas, outro apartado do site, evidenciam-se como uma oportunidade para os docentes investirem na sua formação contínua, num aprimoramento profissional essencial, quando estes profissionais se têm de assumir como «um especialista» na criação de ambientes de aprendizagem, no que diz respeito à dimensão relacional e à organização, distribuição e sequencialização das tarefas (Amor, 2006).
A grande ênfase do ClioESE reside, ainda assim, na disponibilização de recursos vários e passíveis de utilização na sala de aula para a abordagem de conteúdos programáticos de História, Geografia, Etnografia ou Educação Moral e Religião Católica. Porque aquele é o lugar, por excelência, no qual o docente pode arriscar e diversificar as estratégias de ensino, convertendo-o num espaço onde “o conhecimento é elaborado de forma participativa, crítica e multidisciplinar” (Rocha, s/d:3) e onde os materiais de trabalho podem facultar um contributo essencial para o desenvolvimento de capacidades intelectuais e para assunção de valores éticos, morais e humanistas (Parente, 2009), nos momentos de leitura e análise da realidade social e histórica e de problematização da sua transformação. De facto, o ensino expositivo e factual, por outras palavras o positivismo de outrora (Proença, 1992), baseado na memorização e reprodução passiva de nomes, datas e acontecimentos, não entusiasma, não comove, não surpreende, não incomoda. O ensino da História passa, agora, por abordagens articuladas das questões locais, regionais, nacionais e internacionais, sensibiliza para a diferença, reconhece as dinâmicas das relações sociais, políticas e culturais, as mudanças e permanências. E os autores dos materiais disponibilizados na plataforma colaborativa ClioESE sabem-no. Os regulares investigadores-colaboradores do site, os atuais ou antigos estudantes da Escola Superior de Educação do Porto, os docentes de instituições portuguesas de ensino básico e secundário olham para o objeto do saber histórico que é cada vez mais globalizante, reflexivo, questionador e promotor de posturas críticas. E veem a potencialidade daquelas fontes históricas “…que nos permiten reconstruirlo [el pasado] mentalmente y tener un conocimiento del mismo empiricamente verificable, es decir, discutible com criterios de rigor cinetífico…” (Castillo, 2015:67). E anseiam, pelo projeto da Oficina Didática de Ciências Humanas, promover o gosto e o interesse pela História (e outras Ciências Humanas) e suas problemáticas e evitar a perda da memória coletiva, o enfraquecimento do espírito crítico, a inexistência da capacidade interventora dos jovens, cidadãos e atores no processo de desenvolvimento democrático.      

Bibliografia
Amor, E. (2006). Didáctica do Português - Fundamentos e Metodologia. Lisboa: Texto Editores.
Arends, R. (2008). Aprender a ensinar. Espanha: McGraw-Hill Interamericana de España.
Castillo, J.D. (2015). Pensamiento histórico y evaluación de competencias. Barcelona: Editorial Graó.
El-Hani, C. & Greca, I. (2011). Participação em uma comunidade virtual de prática desenhada como meio de diminuir a lacuna pesquisa-prática na educação em Biologia. Ciência e Educação, vol. 17, nº 3, pp. 579-601.
Hall, B.L. (1981). Participatory research, popular knowledge and power: a personal reflection, Convergence, 14(3).
Mattoso, J. (2006). A Função Social da História no mundo de Hoje. Lisboa: APH.
Ministério da Educação (1991). Programa de História e Geografia de Portugal. Lisboa: DGEBS.
Parente, R. (2009). A Narrativa na Aula de História. Educação Histórica: Investigação em Portugal e no Brasil. Universidade do Minho: Centro de Investigação em Educação.
Proença, M.C. (1992). Didáctica da História. Lisboa: Universidade Aberta.
Rocha, A. (s/d). Proposta Metodológica para o ensino da História.Consultado a 15 de maio de 2015, em http://www.sicoda.fw.uri.br/revistas/artigos/1_5_54.pdf.
Roldão, M.C. (1991). Gostar de História, um desafio pedagógico. Lisboa: Texto Editora.
Trepat, C. (1995). Procedimentos en Historia – Un punto de vista didáctico. Editorial Graó: Barcelona