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portadaVELIKONJA, Mitja, Titonostalgia: A study of nostalgia for Josip Broz, Ljubljana, Peace Institute,  pp. 146.

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Marcos Ferreira Navarro
Estudiante de 4 º de Grado de Historia, Universidad de León, Universidade Nova de Lisboa y Universidad de Granada

 

Josip Broz “Tito” morreu há 33 anos. Desde essa data até agora, o estado que ele dirigiu (Jugoslávia) já não existe. Porém, além dos dez anos de guerra que os territórios da antiga Jugoslávia sofreram na década de 1990 (1) e do facto de a estutura federal já não existir, a figura de “Tito” é ainda lembrada. Pode ser lembrada de forma negativa ou positiva, mas o que fica claro é que a figura do Marechal continua a ter importância na sociedade dos novos estados da antiga Jugoslávia. Neste sentido enquadra-se a obra de Mitja Velikonja, cujo objetivo principal não é de descrever quem foi o Josip Broz, senão de explicar por que Josip Broz continua a ser uma figura respeitável, muitas vezes tomada como exemplo.

A Jugonostalgia, segundo o autor deste livro, não é mais do que uma parte de um processo mais geral como é a nostalgia nos distintos países do antigo Bloque do Leste. Assim, dentro do fenómeno da Jugonostalgia, a Titonostalgia é a nostalgia por Josip Broz “Tito” que forma uma parte muito importante. Porém, por que “Tito”? Segundo Mitja Velikonja todas as pessoas “jugonostálgicas” com as quais falou, disseram-lhe que a eleição do “Tito” foi não por motivos políticos, senão culturais e económicos. Em parte isto é verdadede. Depois de tudo, a imagem de Josip Broz tem-se convertido numa imagem comercial. Ainda assim, Mitja Velikonja também observa na eleição de Josip Broz um posicionamento político e ideológico em favor do “Tito”: durante os 45 anos da segunda Jugoslávia teriam existido outros personagens que representariam melhor do que “Tito” os valores jugoslavos desde un ponto de vista não político e ideológico.

Um elemento chave para compreender a Titonostalgia e a Jugonostalgia é a definição do conceito de nostalgia. A nostalgia está formada por dois elementos. Por um lado, lembranças prazenteiras sobre um período pretérito. Por outro lado, um passado idealizado que se compara com um presente-futuro desconhecido. Neste sentido, a golorificação do passado serve sobretudo para fazer uma crítica do que não fica bem no presente e que lembra o que estava bem no passado.

A nostalgia não é um conceito uniforme, é uma noção efêmera e cambiante. Varia respeito ao tempo, o espaço e atravessa gerações e classes sociais. Assim, a nostalgia não está necessariamente conectada  com uma experiência dos factos. De igual modo, as pessoas podem ser nostálgicas sem nem sequer terem vivido no tempo pelo qual sentem nostalgia.
Os elementos chave da Titonostalgia são os seguintes: Josip Broz “Tito” era uma figura histórica de grande relevância; o seu governo foi exitoso; os seus tempos foram óptimos; o seu Estado justo; e a  atitude dos titonostalgicos é positiva e emocional ao lembrar-se dele.
Em relação a como se manifesta este fenómeno, o autor distingue basicamente dois. Por um lado, uma vertente cultural. E por outro lado, uma vertente que reúne as crenças das pessoas. Em outras palavras, a Titonostalgia inclui os discursos dos grupos, instituções e indivíduos por um lado e por outro lado, um padrão psicológico e mental. O primeiro deles é a cultura da nostalgia e a segunda é a cultura nostálgica. Assim, a diferença principal entre ambos conceitos é que entratanto a cultura da nostlagia ocupa-se da produção e difusão de práticas culturais, a cultura nostálgica está formada das crenças individuais e colectivas das pessoas.

Respeito à cultura da nostalgia, esta compõe uma verdadeira indústria. Todo aquelo que possa ser relacionado com o marechal é sujeito de poder ser comercializado para obter o maior lucro possível.  Algumas destas principais manifestações são a utilização da sua figura como uma verdadiera marca ao mesmo nível que Nike ou Adidas. A organização de visitas turísticas aos lugares mais importantes que estão vinculados com a vida do “Tito”, numerosos filmes e documentais que ou tratam direitamente sobre ele ou o tomam como uma parte importante do filme; e inclusive foram criadas numerosas páginas web para fazer uma homenagem a sua pessoa. Sem dúvida alguma, Josip Broz “Tito” forma parte desses líderes socialistas pretéritos (Lenine ou “Che” Guevara) cuja imagem convertera-se numa imagem comercial com grande importância. Enfim, a sua própria família asegurou-se o direito de serem os únicos legalmente em poder usar o nome de Josip Broz “Tito” com fins lucrativos(2).

Porém, a figura de Josip Broz “Tito” não é simplesmente um reclamo publicitário, no entanto também tem uma dimensão mental e psicológica que forma parte da memória colectiva das sociedades dos novos países da antiga Jugoslávia (cultura nostálgica). Neste sentido, muitos aspectos relacionados com a figura de “Tito” servem como pontos de comparação entre o passado e o presente, entre o correcto e o incorrecto, entre o positivo e o negativo.

No sentido anterior, realizam-se muitas homenagens e celebrações para lembrar a figura do marechal. Além dos cenários dos eventos, todos eles têm em comum o mesmo modo de actuar. Assim, os participantes lembram-se dos tempos do “Tito” através de cumprimentos, gestos, linguagem e outros detalhes que permitem “volver aos tempos da Jugoslávia socialista”. Alguns participantes vestem uniformes dos partisanos, dos pioneiros do “Tito” ou do Exército Popular Jugoslavo (JNA). Também não faltam medalhas, insígnias, bandeiras e outra parafernália jugoslava. O ambiente costuma ser festivo, com quase todas as pessoas a ter um papel direito nos discursos, nos aplausos ou nos gritos em favor de Josip Broz “Tito”. Porém, o ambiente torna-se solene quando se entra a algum sítio representativo do “Tito” como pode ser a sua casa de nascimento em Kumrovec ou no seu mausoléu, “Casa das Flores”, em Belgrado. Um elemento mais do que representativo da Titonostalgia é que nestas celebrações não só se celebra a figura do Tito, de Jugoslávia ou do socialismo, mas é também uma plataforma perfeita para críticas aos poderes políticos e económicos actuais, os quais se comparam com uma idealizada imagem de Jugoslávia.

A imagem idealizada que os jugonostálgicos têm sobre a Jugoslávia e sobre o “Tito” tem grande relevância quando se forma o discurso nostálgico sobre os dois elementos anteriores. Assim, é muito difícil encontrar imagens ou discursos que não falem positivamente do “Tito” ou do estado único dos eslavos do sul. E o certo é que nos discursos nostálgicos a imagem de Josip Broz não é uma procura sobre o que o marechal e o seu legado foram no passado, no entanto  desenha-se uma imagem do “Tito” como os seus seguidores actuais gostariam que tivesse sido no passado. Quer isto dizer, uma imagem totalmente idealizada e sem nenhum contexto. Assim, uma parte da Jugonostálgia e, dessa forma, da Titonostalgia, seria fugir de uma realidade que não se quer aceitar.

Desde esse ponto de vista, a Titonostalgia é totalmente nefasta porque não permite às pessoas que participam nas suas manifestaçoes e discursos seguir adiante, já que gostariam viver num período que já não existe e que não volatará a exisitir tal e como existiu. Porém, a Jugonostalgia e a Titonostalgia têm uma parte positiva. Ambos elementos supõem uma atitude de rebeldia contra o status quo económico, político, cultural e social e neste sentido, a nostalgia pela Jugoslávia e por “Tito” poderia trazer à actualidade, sem nenhuma idealização, aqueles elementos mais positivos da República Federal Socialista de Jugoslávia. Depois de tudo, numa região como os Balcãs onde a hetereogeneidade cultural, religiosa, étnica, económica e social é muito grande, talvez recuperar as ideais de “irmandade e fraternidade” (o lema oficial durante a Jugoslávia socialista) em algum nível não seja uma ideia negativa. 


(1)  Algumas das melhores respeito a esta questão. Vid.  NATION, R. Craig, War in the Balkans, Washington, Strategic Studies Institute, 2003; VEIGA, Francisco, La Fábrica de las Fronteras. Guerras de secesión  yugoslavas (1991-2001), Madrid, Alianza Editorial, 2011;  VEIGA, Francisco, La trampa balcánica, Barcelona, Grijalbo, 1995. Uma obra mais breve pode ser lida em, Vid. FINLAN, Alastain, The Collapse of Yugoslavia 1991-1999, Oxford, Osprey Publishing, 2004.

(2) VELIKONJA, Mitja, Titonostalgia. A study of Nostalgia for Josip Broz, Ljubljana, Peace Institute, 2008, p. 57.